Neste começo de fevereiro de 2018, assistimos a um “desabamento” das cotações do Bitcoin e demais criptomoedas. Ameaças de regulamentação quanto ao uso e até mesmo de proibição – vindas principalmente da China – têm pressionado o valor desses ativos. Ao que parece, as novas moedas foram pegas no meio de um conflito entre banqueiros conservadores, estejam eles em bancos centrais ou particulares, e investidores ávidos por lucros em um ativo cujo funcionamento mal conhecem. Não pretendo discorrer sobre as nuances das criptomoedas, mas adianto que concordo com as teses de que:
- Se trata de uma bolha especulativa de vultosas dimensões;
- Não se trata de uma corrente financeira – mais sobre isso pode ser lido aqui.
O que gostaria de questionar são as afirmações de que se trata de mero modismo, que tende a desaparecer de forma tão repentina quanto surgiu. Primeiro, o Bitcoin foi criado em 2009. De modo que fica difícil classificar algo como passageiro após nove anos de existência. Segundo, há um elemento de popularização relevante: existem mais de mil e quinhentas criptomoedas diferentes e algumas das mais famosas já são aceitas para pagamento de produtos e serviços. Terceiro – e mais importante -, as criptomoedas estão perfeitamente alinhadas a tudo aquilo que boa parte do mercado financeiro sempre sonhou: desregulamentação ampla, geral e irrestrita. Afinal, como controlar um ativo que não é emitido por uma autoridade monetária nacional, escapa à fiscalização convencional e que se define, em suma, como a junção do valor com a criptografia? A regulamentação econômica parece impotente frente ao dinheiro virtual – e, muitas vezes, descentralizado.
Considerando os pontos listados acima, vale reforçar o caráter etéreo dessas moedas: não existem em cédulas, pedras ou metais preciosos, commodities, etc. O seu lastro, se é que podemos chamar assim, reside em seu valor simbólico e seus usos, louváveis ou não. De louvável, podemos citar a capacidade de manter o bedelho corporativo ou governamental distante de nossos hábitos de consumo. De deplorável, temos a utilização escusa, que vai da sonegação de impostos à lavagem de dinheiro, passando por coisa bem pior no caminho. Mas, retomando, essa ausência de materialidade não estaria perfeitamente alinhada à evolução do dinheiro? Do ouro à cédula, da cédula ao cartão, do cartão aos aplicativos… Pois bem, se há uma moeda que junta os sonhos mais delirantes da desregulamentação à crescente virtualidade, por que haveria de sumir? Ainda que algo catastrófico aconteça com essa geração inicial de criptomoedas, acho difícil que o princípio se perca. Parece que o Bitcoin é o primeiro passo rumo ao futuro do dinheiro.
Imagem retirada do blog Dinheiro para viver.
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